Por
Maze Oliver
Precisamos falar sobre o Kevin não é um
filme qualquer. Requer reflexão, conhecimento e muita sensibilidade para
compreender as emoções que ele transmite e o que ele nos instiga. A
primeira observação que se pode fazer é que ele e a mãe, Eva são
muito parecidos, quase iguais fisicamente, uma das cenas do
filme mostra isso fazendo uma fusão de suas imagens. A cor vermelha
representa a vida e o sangue, a felicidade e a dor, metáfora totalmente
atual e real, mas vamos ao filme.
Eva,
a mãe de Kevin não teve uma interação boa com a própria mãe, que sofria
provavelmente de algum transtorno, pois não saia de casa para nada. Eva
queria uma outra vida para ela: de trabalho, festas e viagens. A mãe de Kevin
casou apaixonada pelo marido. Queria viajar muito e não queria filhos.
Engravidou de Kevin e ficou longe das viagens que fazia, da vida que tinha,
embora fosse rica. Quando Kevin nasceu, Eva desenvolveu uma Depressão crônica
que iniciou logo após o parto. Ficou apática e deprimida. Todo o seu mundo
ficou para trás. Não conseguiu se conectar com o bebê que chorava muito e lhe
causava muita irritação.
O
bebê foi crescendo e usou fraldas até os seis anos, o que demostra problemas
na fase anal, às vezes sujava as calças propositalmente. Kevin interferia na
relação pai e mãe, apresentando um comportamento bonzinho para o pai e
confrontando a mãe. Eva achou estranho o comportamento do menino e o levou ao
médico (Seria surdez?), mas segundo o médico ele era saudável.
O
tempo passa, Kevin continua usando as roupas da infância, numa demonstração
de não crescimento e mais uma vez demonstrando uma criança interior raivosa
chamando atenção. Eva estava apática, perdida, não sabia como lidar, não tem
apoio do marido, que trata Kevin como se nada tivesse
acontecendo. Kevin fazia tudo para chamar a atenção da mãe,
perturbando-a gratuitamente. Até se masturbar de porta aberta para que ela o
visse. Faltava-lhe limites, pois Eva nada fazia e o pai passava a mão na
cabeça dele, mimando-o. Como o pai é ausente na disciplina, falta-lhe limites
de pai e de mãe; o que deve ter interferido na “má" construção de seu
superego. Ou pode ter nascido assim, sem empatia. Ninguém lhe freia e
ele segue praticando Bullyng cada vez mais, provocando a mãe, sua diversão
preferida.
Kevin
passa para uma outra fase, vai avançando na sua perversão, tornando-se cada
vez mais sádico. Começa a se incomodar
com os prazeres dos outros e mata o animalzinho de estimação da irmã e a cega
num "acidente" que ele mesmo provocou. Na cena da mesa, em que
comem juntos, fica claro que ele não está nem aí para o que aconteceu com a
irmã e provoca mais ainda a mãe, ao mastigar algo redondo. O que para a mãe
parece ser uma referência ao olho da irmã.
Kevin
tem ideia fixa na mãe, tudo que ele faz, presta atenção na reação dela e
em muitas cenas parece se divertir, com as expressões de surpresa de Eva. O
filme mostra apenas uma cena de carinho entre eles, quando ele fica doente. A
mãe lê uma história para ele. Ele aconchega-se ao corpo dela, porém é a
partir daí que ele copia o artista da história, que é arqueiro e tudo caminha
para o planejamento assassino, de matar os garotos da escola, aqueles que
possuem algum destaque. Ou seja, na visão de Eva ele a obriga a olhar para
ele o tempo todo, mesmo que seja com estratégia negativa. Quando passeiam
juntos ele se identifica com ela, com as críticas que ela faz aos gordos. Ele
é um pouco ela e a mãe se ver nele, por isso não se rejeitam, mas sim, se
completam. São ambos Sadomasoquistas. Ela tem aparência sofrida, apática, sem
vida, emoção embotada (sofre de Distimia – um tipo de Depressão). Ele sádico,
gosta de ver o sofrimento das pessoas, e da mãe, preferencialmente.
No final, após o crime em que
ele mata vários adolescentes da escola e vai preso, a cena da mãe no quarto
já em casa, comprova o que é afirmado anteriormente. Após mudar de casa,
Eva arruma o quarto de Kevin do mesmo jeito, mostrando que a relação de mãe e
filho não acabou e continuará igual, e que ele descartou o pai e a irmã para
poder ficar sozinho com ela. O domínio irá continuar... O par perfeito. Ele
com emoções sádicas assumidas e ela com o gosto pela dor. O sádico e a
masoquista. Ambos com estrutura PERVERSÃO. Lembrando que todo sádico é também
masoquista e vice-versa, a diferença é que cada um desenvolveu mais, um dos
aspectos: sentir prazer em maltratar ou sofrer e ser maltratado.
Maze Oliver
Orientadora Educacional,
Pedagoga e
Psicanalista Clínica
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