sábado, 8 de abril de 2023

ANÁLISE DO FILME - Precisamos falar com o Kevin

Cena do filme



    Por Maze Oliver

        

     Precisamos falar sobre o Kevin não é um filme qualquer. Requer reflexão, conhecimento e muita sensibilidade para compreender as emoções que ele transmite e o que ele nos instiga. A primeira observação que se pode fazer é que ele e a mãe, Eva são muito parecidos, quase iguais fisicamente, uma das cenas do filme mostra isso fazendo uma fusão de suas imagens. A cor vermelha representa a vida e o sangue, a felicidade e a dor, metáfora totalmente atual e real, mas vamos ao filme.

     Eva, a mãe de Kevin não teve uma interação boa com a própria mãe, que sofria provavelmente de algum transtorno, pois não saia de casa para nada. Eva queria uma outra vida para ela: de trabalho, festas e viagens. A mãe de Kevin casou apaixonada pelo marido. Queria viajar muito e não queria filhos. Engravidou de Kevin e ficou longe das viagens que fazia, da vida que tinha, embora fosse rica. Quando Kevin nasceu, Eva desenvolveu uma Depressão crônica que iniciou logo após o parto. Ficou apática e deprimida. Todo o seu mundo ficou para trás. Não conseguiu se conectar com o bebê que chorava muito e lhe causava muita irritação.

     O bebê foi crescendo e usou fraldas até os seis anos, o que demostra problemas na fase anal, às vezes sujava as calças propositalmente. Kevin interferia na relação pai e mãe, apresentando um comportamento bonzinho para o pai e confrontando a mãe. Eva achou estranho o comportamento do menino e o levou ao médico (Seria surdez?), mas segundo o médico ele era saudável.

     O tempo passa, Kevin continua usando as roupas da infância, numa demonstração de não crescimento e mais uma vez demonstrando uma criança interior raivosa chamando atenção. Eva estava apática, perdida, não sabia como lidar, não tem apoio do marido, que trata Kevin como se nada tivesse acontecendo.  Kevin fazia tudo para chamar a atenção da mãe, perturbando-a gratuitamente. Até se masturbar de porta aberta para que ela o visse. Faltava-lhe limites, pois Eva nada fazia e o pai passava a mão na cabeça dele, mimando-o. Como o pai é ausente na disciplina, falta-lhe limites de pai e de mãe; o que deve ter interferido na “má" construção de seu superego. Ou pode ter nascido assim, sem empatia. Ninguém lhe freia e ele segue praticando Bullyng cada vez mais, provocando a mãe, sua diversão preferida.

      Kevin passa para uma outra fase, vai avançando na sua perversão, tornando-se cada vez mais sádico.  Começa a se incomodar com os prazeres dos outros e mata o animalzinho de estimação da irmã e a cega num "acidente" que ele mesmo provocou. Na cena da mesa, em que comem juntos, fica claro que ele não está nem aí para o que aconteceu com a irmã e provoca mais ainda a mãe, ao mastigar algo redondo. O que para a mãe parece ser uma referência ao olho da irmã.

     Kevin tem ideia fixa na mãe, tudo que ele faz, presta atenção na reação dela e em muitas cenas parece se divertir, com as expressões de surpresa de Eva. O filme mostra apenas uma cena de carinho entre eles, quando ele fica doente. A mãe lê uma história para ele. Ele aconchega-se ao corpo dela, porém é a partir daí que ele copia o artista da história, que é arqueiro e tudo caminha para o planejamento assassino, de matar os garotos da escola, aqueles que possuem algum destaque. Ou seja, na visão de Eva ele a obriga a olhar para ele o tempo todo, mesmo que seja com estratégia negativa. Quando passeiam juntos ele se identifica com ela, com as críticas que ela faz aos gordos. Ele é um pouco ela e a mãe se ver nele, por isso não se rejeitam, mas sim, se completam. São ambos Sadomasoquistas. Ela tem aparência sofrida, apática, sem vida, emoção embotada (sofre de Distimia – um tipo de Depressão). Ele sádico, gosta de ver o sofrimento das pessoas, e da mãe, preferencialmente.

      No final, após o crime em que ele mata vários adolescentes da escola e vai preso, a cena da mãe no quarto já em casa, comprova o que é afirmado anteriormente. Após mudar de casa, Eva arruma o quarto de Kevin do mesmo jeito, mostrando que a relação de mãe e filho não acabou e continuará igual, e que ele descartou o pai e a irmã para poder ficar sozinho com ela. O domínio irá continuar... O par perfeito. Ele com emoções sádicas assumidas e ela com o gosto pela dor. O sádico e a masoquista. Ambos com estrutura PERVERSÃO. Lembrando que todo sádico é também masoquista e vice-versa, a diferença é que cada um desenvolveu mais, um dos aspectos: sentir prazer em maltratar ou sofrer e ser maltratado.

 

Maze Oliver

Orientadora Educacional, Pedagoga e 

Psicanalista Clínica

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